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Nos dias de estio
sexta-feira, 25 de dezembro de 2015
domingo, 14 de junho de 2015
sábado, 23 de maio de 2015
quarta-feira, 20 de maio de 2015
segunda-feira, 4 de maio de 2015
quinta-feira, 9 de abril de 2015
repetir as ruas
como se os passos
riscassem o vidro dos dias
e o mormaço sem mar
queimasse as retinas,
ferrugem da loja
que virou ruína.
a cidade é um cisco
na memória
tudo que traz
é esqueleto já ido.
sobrado, labirinto,
beco sem saída.
resta o pensamento,
a construção no ar,
bola de capotão,
o beijo na festinha de garagem
amigos na fonseca da costa
pastel de feira cura saudade ?
aí inventar um filme,
correr na escada-rolante
do metrô, contar um, dois,
três, respira só.
como se os passos
riscassem o vidro dos dias
e o mormaço sem mar
queimasse as retinas,
ferrugem da loja
que virou ruína.
a cidade é um cisco
na memória
tudo que traz
é esqueleto já ido.
sobrado, labirinto,
beco sem saída.
resta o pensamento,
a construção no ar,
bola de capotão,
o beijo na festinha de garagem
amigos na fonseca da costa
pastel de feira cura saudade ?
aí inventar um filme,
correr na escada-rolante
do metrô, contar um, dois,
três, respira só.
segunda-feira, 30 de março de 2015
sexta-feira, 27 de março de 2015
Desmemórias
os vidros de areia hibernam nas
prateleiras museu de pesca de santos praias próximas e distantes brancas ou opacas protegidas do tempo que faz lá fora já foram
castelos e esconderam concha arranharam os olhos nas brincadeiras de infância refletiram navios nas noites brancas guardaram os passos apagados da memória .
quarta-feira, 25 de março de 2015
no filme de Wim Wenders os
peixes moram no deserto
as bandeiras estão sempre
escondidas no porão
as cores desbotam em velhas
máquinas de lavar
a vida é um fio trapezista na
fronteira do Texas
as mulheres usam jeans com
remendos amarelos
os anjos de gesso não são
esculpidos por Aleijadinho
os aquários estão cheios de
areia
os camaleões vestem sempre a
mesma pele
in " Decalques " ( 2008 )
in " Decalques " ( 2008 )
Santos
Entre alamedas de tempos, litorais no
geometrismo das calçadas. Sargaços nos labirintos de Ariadne. O modernismo do
prédio Verde Mar, arquitetura dissidente. Porto, presença impregnada nas pedras
vitricidade translúcida dos corais. Carnavais, marés de recordações
reinventadas ao som de marchinhas
antigas. Edifício Planeta, pastilhas nas paredes, corredores intermináveis na desmelancolia juvenil.
in " Decalques " ( 2008 )
antigas. Edifício Planeta, pastilhas nas paredes, corredores intermináveis na desmelancolia juvenil.
in " Decalques " ( 2008 )
quinta-feira, 19 de março de 2015
quarta-feira, 18 de março de 2015
Quantas avaliações literárias apressadas, sem a mínima preocupação em analisar o texto, o arranjo entre as palavras, os sentidos presentes. Dizer que algo é primário sem explicar as razões nem apontar as redundâncias é no mínimo ingenuidade. Não é fundamental ser filiado a um grupo ( ou panelinha literária) mas ter a noção mínima de que o simples uso de termos como " sarjeta", " bebida " e " puta " não torna a obra mais potente do que aquela que usa " amor " , " amigo" , " alegria ". A maneira como a fatura poética é construída importa bem mais.
segunda-feira, 16 de março de 2015
sexta-feira, 13 de março de 2015
terça-feira, 10 de março de 2015
sábado, 7 de março de 2015
sexta-feira, 6 de março de 2015
quarta-feira, 4 de março de 2015
terça-feira, 3 de março de 2015
repetir as ruas
como se os passos
riscassem o vidro dos dias
e o mormaço sem mar
queimasse as retinas,
ferrugem da loja
que virou ruína.
a cidade é um cisco
na memória
tudo que traz
é esqueleto já ido.
sobrado, labirinto,
beco sem saída.
resta o pensamento,
a construção no ar,
bola de capotão,
o beijo dado na vilinha.
a fonseca da costa
não volta, pastel de feira
cura angústia ?
aí inventar um filme,
correr na escada-rolante
do metrô, contar um, dois,
três, respira só.
como se os passos
riscassem o vidro dos dias
e o mormaço sem mar
queimasse as retinas,
ferrugem da loja
que virou ruína.
a cidade é um cisco
na memória
tudo que traz
é esqueleto já ido.
sobrado, labirinto,
beco sem saída.
resta o pensamento,
a construção no ar,
bola de capotão,
o beijo dado na vilinha.
a fonseca da costa
não volta, pastel de feira
cura angústia ?
aí inventar um filme,
correr na escada-rolante
do metrô, contar um, dois,
três, respira só.
segunda-feira, 2 de março de 2015
domingo, 1 de março de 2015
sábado, 28 de fevereiro de 2015
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015
2012
Um quebra-cabeça, os números das casas formam uma sequência vazia até beirar a estação que corre nas veias. Naquela placa, embaralho seu nome até o esquecimento. É preciso reter a água, o fluxo insensato que teima em fluir, até que tudo vire um borrão disforme, um som agudo. Essa rua não é minha. Tampouco aquele espelho quebrado numa tarde de sexta.
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015
As coisas da vida
Não te preocupes comigo porque eu sabia que as coisas não podiam durar para sempre. Não foste feita para viver em duas assoalhadas com um escritor que não escreve, para tomar banho de água gelada porque a companhia do gás não fia, para aturar as má-criações do senhorio porque me atrasei na renda. Não te preocupes comigo: compreendo que te vás embora, não armo escândalos, não te peço que fiques. Claro que me custa um bocadinho, ao princípio vou sentir a tua falta, nos primeiros tempos, em chegando as sete horas, ao ouvir os passos no patamar hei-de correr até à porta.
– É a Tereza
E afinal não é a Tereza, é o vizinho do lado esquerdo com um saco do supermercado em cada mão, o vizinho a escapar ao meu abraço julgando que eu enlouqueci e eu recuar aflitíssimo
– Desculpe senhor Vasconcelos tomei-o por outra pessoa
o vizinho a aconselhar-me com maus modos que deixe de beber e aferrolhar-se em casa com medo que eu apareça para o beijar tratando-o por amor. Mas não te preocupes comigo: daqui a seis meses estou fino, daqui a seis meses já comecei o romance e consegui um empréstimo do editor, daqui a seis meses garanto-te, tenho a certeza que me esqueço de ti. No início estas coisas parecem sempre horríveis e depois à medida que a gente se habitua vamos tendo menos vontade de chorar, vamos recomeçando a interessar-nos por atentados à bomba e divórcios de princesas que são dois tipos de catástrofes que mais nos apaixonam no jornal, deixamos de aborrecer os amigos com telefonemas a desoras e um belo dia
(é a vida)
damos por nós a assobiar ao espelho durante a barba da manhã, se alguém nos pergunta ao café
– O que é feito de Tereza?
temos de fazer um esforço para nos lembramos de qual Tereza
– Qual Tereza?
e outros espantados
– A tua mulher que Tereza querias que fosse?
e nós num tonzinho desprendido, nós sinceros
– Ah a Tereza sei lá não a vejo há séculos
e verificamos sem surpresa que dizer o teu nome já não dói, que não nos recordamos bem da tua cara, que deixaste definitivamente de existir. Portanto não te preocupes comigo: isto passa. Passa a vontade de morrer, passa o desejo de escrever Tereza no pó dos móveis
( porque não vou ter ninguém para os limpar)
e nos vidros embaciados da janela, passa a estupidez de passar os dias estendido no sofá, a olhar o tecto e lembrar-me daquele passeio à Foz do Arelho, daquele vestido azul que não tornarei a ver, daquele encavalitamento dos incisivos de que eu gostava tanto, do domingo em que queimaste o jantar, das tuas fúrias por eu apertar a pasta de dentes pelo meio e deixar a torneira do lavatório a pingar toda a noite
– Pensas que és rico?
ou de quando lia o jornal por cima de teu ombro e tu incomodadíssima
– Não consigo ler o jornal com uma pessoa a espreitar por cima do ombro desculpa
a atirares com as páginas e a fechares-te no quarto num derradeiro berro
– Que chatice
tu que afastavas a perna se eu aproximava a minha, ficavas hirta se eu tentava beijar-te, cessaste de me dar a mão no cinema, se eu te perguntava
– Amas-me?
ficavas calada ou resmungavas num esforço de alpinista no Himalaia, como se as palavras pesassem toneladas e o oxigênio faltasse
– Se eu não te amasse achas que estava aqui?
Tinhas relações sem uma palavra, de dedos mortos nas minhas costas como se desejasses
(imagina o que eu fui pensar, que parvoíce)
que terminasse depressa, como se desejasses ver-te livre de mim, que se eu me interessava
– Foi bom?
me respondias
– Estou cansada dói-me a cabeça não sei
e te lavavas muito depressa como se eu te tivesse infectado, a chapinhares meia hora no bidê. Eu sabia que isto não podia durar sempre.
Não foste feita para viver em duas assoalhadas com um escritor que não escreve, para tomar banho de água gelada porque a companhia do gás não fia, para aturar as má-criações do senhorio porque me atrasei na renda. Não te preocupes comigo: compreendo que te vás embora, não armo escândalos, não te peço que fiques, juro que não me zango se esse amigo que estás a falar e que não sei quem é vier ajudar-te a levar as roupas, a levar os teus livros. Não me zango: assim que vocês começarem a descer as escadas ligo à Mariana ou à Paula ou à Raquel, convido-as para sair comigo, recomeço a existência do princípio. Não julguem que vou desfazer-me em lágrimas ou que me suicido. Não vou. Asseguro-te que não vou. Em todo caso, pelo sim, pelo não, deixa ficar os lenços de papel e a embalagem de valium. A gente sempre precisa de alguma coisa que nos faça companhia não é, e detesto limpar o nariz à manga do casaco da mesma forma que a ideia de me atirar pela janela me repugna: ainda podia cair em cima de vocês, lá em baixo no passeio à espera do taxi, ainda podia cair em cima do teu amigo e partir-lhe um osso ou assim e tu havias de imaginar que eu me sinto agressivo
que não sinto
com esse filho da mãe, desculpa, com esse rapaz que deve ser, que tem de ser, que aposto que é uma jóia de pessoa.
(António Lobo Antunes )
LIMÃO E MATE
Dois irmãos, limão e mate:
Dois irmãos, limão e mate:
" - mão " e " - má " , meias palavras
para bons entendedores
cheios de sede na praia,
vítimas do dualismo
universal: o ar e o sal,
os dois galões ombro a ombro,
os dois cumes da montanha,
as duas bandas da bunda,
os dois sabores do globo,
o óleo passando no bronze,
a onda batendo no umbigo,
os pés debaixo da areia
e o cabelo relembrado
pelo vento de que o tempo
continua, e morde os corpos.
( Sérgio Alcides )
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