segunda-feira, 30 de março de 2015

Desmemórias 

que a chuva lave aquilo que vela fotos reveladas nos silos de chumbo depois da quarta camada de areia desaparece o traço do navio resta a lembrança da imagem que insiste em refazer as margens dos dias expulsos do calendário

sexta-feira, 27 de março de 2015

Desmemórias 

O globo colorido reflete as luzes dos piratas de plástico bônus reinicie a partida no átimo a ficha engole segundos outra paisagem apache tece recordes da vida ao limite tilt 
Desmemórias 


os vidros de areia hibernam nas prateleiras  museu de pesca de santos  praias próximas e distantes  brancas ou opacas  protegidas do tempo que faz lá fora já foram castelos e esconderam concha arranharam os olhos nas brincadeiras de infância  refletiram navios nas noites brancas  guardaram os passos apagados da memória . 


Desmemórias 

não foi possível apesar do sorriso e do caminho que passa sonolento pelo parque de diversões até  a radial leste .


quarta-feira, 25 de março de 2015


Ouvindo Moon River

o céu destila
lua de crepom
veio prata
meia lágrima
fingida
de cristal japonês


in " Decalques " ( 2008 )

no filme de Wim Wenders os peixes moram no deserto
as bandeiras estão sempre escondidas no porão
as cores desbotam em velhas máquinas de lavar
a vida é um fio trapezista na fronteira do Texas
as mulheres usam jeans com remendos amarelos
os anjos de gesso não são esculpidos por Aleijadinho
os aquários estão cheios de areia
os camaleões vestem sempre a mesma pele


in " Decalques " ( 2008 )


Máquina do Mito

Perséfone semeia panorama de romãs
do cultivo o hálito cor de amora
expelindo, madurando
outro início de estação

in " Decalques " ( 2008 )


resta
dedicar-me aos aquários
deslindar a transparência perdida
vitrais desbotados da impossibilidade
musgo dos dias que passam

in " Decalques " ( 2008 )
Margens de Vênus

equação dos sentidos
conflui rios de si, silêncio 
tai-chi na praça 
do seu corpo

in " Decalques " ( 2008 )
Atualidades

no meu tempo, espaços urbanos
miríades, reflexos na rua deserta
hoje no jornal, pessoas sem nome
sem fala, sem eco, efêmeras
no cartaz, a próxima atração
afrodites de papel
na companhia da noite

in " Decalques " ( 2008 )


a cidade deserta
lírica, imprecisa
um menino atrás do seu sonho
seu outubro
fugindo da maquinaria incessante
de seus dias iguais

in " Decalques " ( 2008 )


Acapulco ou Paquetá
lugar para tecer noivado
invento de um tempo gravado
no álbum do Grande Hotel
entre traças
a caixinha de música
murmura

... Recuerdos de Ypacaraí 


in " Decalques " ( 2008 )
Santos 


Entre alamedas de tempos, litorais no geometrismo das calçadas. Sargaços nos labirintos de Ariadne. O modernismo do prédio Verde Mar, arquitetura dissidente. Porto, presença impregnada nas pedras vitricidade translúcida dos corais. Carnavais, marés de recordações reinventadas ao som de marchinhas 
antigas. Edifício Planeta, pastilhas nas paredes, corredores intermináveis na desmelancolia juvenil. 


in " Decalques " ( 2008 )
Limite

na parede do cais
óleo ferruginoso
dos navios ancorados

em meio às aléias da fala
babel de veredas distantes
limite de cordas e margens


in " Decalques " ( 2008 )



Itinerário

para que voes
céus da ausência

linha de
pores-do-sol

mareazulada
marinalívida

inocência


in " Decalques " ( 2008 )


o
Sol
solúvel
matiza
Manhã

menina- dos- olhos
coleciona verões
nos tanques de areia


in " Decalques " ( 2008 )


reflexos mínimos
rascunhos, barcos
ilhas nas entrelinhas

milhares de sóis
rompem o claustro
de mirestrelas

in " Decalques " ( 2008 )


o sol tinge horizonte
na areia barracas invadem espaços
enquanto banhistas jogam futebol
ao longe uma fila de navios dobra os arrecifes
meninas vestidas de vento celebram a chegada da estação

in " Decalques " ( 2008 )



quarta-feira, 18 de março de 2015

Tropeço

a multidão me distancia
perco de vista o outro sorriso
que julgava meu mas era engano
como esfinge a soletrar um jogo
de erros o reverso do esperado
se forte pareço caio frágil
no tropeço do espelho

o mito 
o escorreito 
o frontispício 
o ábaco
o hálito
o equinócio 
a flâmula
aventa
no bico do posto
Quantas avaliações literárias apressadas, sem a mínima preocupação em analisar o texto, o arranjo entre as palavras, os sentidos presentes. Dizer que algo é primário sem explicar as razões nem apontar as redundâncias é no mínimo ingenuidade. Não é fundamental ser filiado a um grupo ( ou panelinha literária) mas ter a noção mínima de que o simples uso de termos como " sarjeta", " bebida " e " puta " não torna a obra mais potente do que aquela que usa " amor " , " amigo" , " alegria ". A maneira como a fatura poética é construída importa bem mais.
"Só é artista aquele que é capaz de transformar a solução num enigma." 
( Karl Kraus )

segunda-feira, 16 de março de 2015

será de que sorte
o pano do mágico
caiado de estrelas


uma coleção de farsas
espie, disfarce
truque ou invento


atirador de facas
plásticas finca a
esfinge no castelo
de cartas


in " Decalques " ( 2008 )




sexta-feira, 13 de março de 2015



o amor é uma lembrança de guache
calendário de águas apressadas
um papel de vertigem vária
dias que correm paralelos
escrevendo seu ciclo de ausências

in " Decalques " ( 2008 ) 






Footgirl

no enredo dos gestos
calções e seios livres
gritos e cílios postiços
arranhando a cara do gol

in " Decalques " ( 2008 ) 




Mímico

letrado no gesto
milimetrado
esquece
polifonia da véspera
multidão de ruídos
sem sentido
ou salvação

in " Decalques " ( 2008 ) 



Contador de Palavras

http://linguistica.insite.com.br/corpus.php

terça-feira, 10 de março de 2015

Atos

I

palhaços sem
cartas na manga
mascaram misérias
no sono dos risos

II

fim de cena
vespas de várzea
recolhem-se
atrás do espelho

in " Decalques " ( 2008 ) 

sábado, 7 de março de 2015

Desmemórias


cada ano um mapa inventa letra lembrança lugares conferir os números das cartelas acumuladas 
Desmemórias

noite o chuveiro silencia estranha escultura no canteiro xadrez de concreto no limite da areia  antídoto do sol dorme de costas para o mar 

sexta-feira, 6 de março de 2015

Estrada Velha

carrinho de
rolimã tira
lasca da ladeira
uma dança em
ziguezague quase
queda à beira do
meio-fio cáries do
ar constelações de
estilhaços caminho
da boca do mar 

in " Decalques " ( 2008 ) 


quarta-feira, 4 de março de 2015

Dona Cândida

existe um jardim perto dos domínios de concreto
inventário de mapas de infância
poucas plantas, um muro e a mesa
decorada com toalhas brancas
tramadas ao cair da tarde

in " Decalques " ( 2008 ) 


Ifá

não apague a passagem do tempo
flor de ventanias colhidas no dia
lago de narciso, beira de abismo
nas contas do colar; ifá

in " Decalques " ( 2008 ) 
Monte Serrat

a letra de Itororó inicia a escada
traça sua geografia cortando
a vila que lembra Noel insolação
na manhã atlântica avista a capela
e o cassino desativado entre vitrais
do salão panorama de mapas
e mirantes diluídos em 360 O 

in " Decalques " ( 2008 ) 


terça-feira, 3 de março de 2015

                                         
                                           Retiro
repetir as ruas 
como se os passos
riscassem o vidro dos dias 
e o mormaço sem mar
queimasse as retinas,
ferrugem da loja 
que virou ruína.
a cidade é um cisco
na memória 
tudo que traz 
é esqueleto já ido. 
sobrado, labirinto, 
beco sem saída. 
resta o pensamento, 
a construção no ar,
bola de capotão, 
o beijo dado na vilinha.
a fonseca da costa 
não volta, pastel de feira
cura angústia ? 
aí inventar um filme,
correr na escada-rolante 
do metrô, contar um, dois, 
três, respira só.
Boqueirão

no canal
de águas
guardadas
foto do fa
rol grama
de silêncio
rebento

in " Decalques " ( 2008 ) 

segunda-feira, 2 de março de 2015

Edifício Parque Verde Mar
  
desenho matizado em cores fortes
ligação entre espaços amplos, do portal aos jardins de paisagens
no teto carrosséis, figuras geométricas
giracéu salpicado de horizontes

in " Decalques " ( 2008 ) 
Itinerário

para que voes
céus da ausência

linha de
pores-do-sol

mareazulada
marinalívida

inocência 


in " Decalques " ( 2008 ) 

domingo, 1 de março de 2015



           

                           

não me tenho em alta conta 
palavra é a cadela que mais berra 
perdi o sono, fechei questão, 
sambei na linha sublinhada, 
volteia , escaramuça, pica a mula
faz ruído, tenta o eco, esvazia,
tinta presa, depois o nada


( rabuja rubirosa )
   valdevino boticão é um vivaldino que cobra os dentes da cara ( rabuja rubirosa ) 
os peixes ladram e a caravela passa ( rabuja rubirosa )