terça-feira, 25 de julho de 2017

minha avó
recolhia as roupas
como se habitasse
um museu de mímicos
e a memória fosse
um ato mecânico
seqüência de slides
apagando- se
distraidamente
que a chuva lave 
aquilo que vela
fotos reveladas
nos silos de chumbo
depois da quarta camada de areia
desaparece o traço
do navio resta
a lembrança da imagem
que insiste em refazer
as margens
dos dias expulsos do calendário

domingo, 9 de julho de 2017

                                            Foto : Caio Guatelli/


o córrego ipiranga
flui seu código
silencioso
caminho rente
sol ardido, banzo
da tarde de terça
trailer abandonado
loja de autopeças
quixote  de radiador
faróis, tanque e
escapamento
distraído, esqueço
o trânsito da avenida
vertigem, recordo
o jardim da saúde,
um quintal e a pitangueira
do rubens na rua frei rolim

A rua em que não vivi
fica no Cambuci perto
da venda do seu Carrasco
onde o cliente nunca tem razão
é curta e sinuosa, se desdobra
na silhueta dos desenhos
da calçada até a esquina
que divisa o terreno baldio
habita um tempo paralelo
uma pipa  enrolada
no fio de alta tensão


Eduardo Fragata


a cidade oxida
no sal de prata
atmosfera, promessa,
logro e labirinto 
espelho quebrado,
é bom evitar começos,
multidão de aquário
sem oxigênio