sábado, 25 de maio de 2019

ladainha

um disco riscado
do aznavour que volta
sempre ao mesmo
trecho
celly campelo cantando
na caixinha de música
a última sessão de
cinema antes de virar
igreja evangélica
a dança desajeitada que
derruba a dose
de cinzano no paribar
as cores do semáforo
refletidos na insônia
de anteontem
seu casaco entreaberto
em cada patamar das
escadas do predinho

sexta-feira, 24 de maio de 2019


repetir as ruas
como se os passos
riscassem o vidro dos dias
e o mormaço sem mar
queimasse as retinas
ferrugem da loja
que virou ruína

a cidade é um cisco
na memória
tudo que traz
é esqueleto
sobrado labirinto
beco sem saída

restam as lembranças
bola de capotão
o beijo na festinha de garagem
amigos na fonseca da costa

pastel de feira cura saudade


varal

minha avó
recolhia as roupas
como se fizesse mímica

a memória
sequência de slides
apagando-se
distraidamente





1
Eu sei que a esquina
É uma dobro no pensamento
E as rugas, escamas de peixe
Nubladas pelas água suja
Do aquário

2
O convite pro cinema , um
Devaneio de quem trança as pernas
Invertendo os números
Das placas dos carros

O tempo, alfabeto 
de impossibilidades
num fluxo de rio coberto
pelo asfalto

3
Chovem chaminés das
Fábricas notícias de amores
De pedra-pomes
Esfareladas nas banheiras
Dos motéis da ricardo jafet


paisagem paralela

o córrego ipiranga
flui seu código
silencioso

caminho rente
sol ardido, banzo
da tarde de terça

trailer abandonado
loja de autopeças
dom quixote de faróis
tanque escapamento

distraído, esqueço
o trânsito da avenida

vertigem : recordo
o jardim da saúde,
um quintal e pitangueira
do rubens na rua frei
rolim