terça-feira, 26 de fevereiro de 2019


TEMIXCO

Pouca gente lembra de Temixco
cidade onde caminhavam escritores,
novelas grandes e amarelas.

Depois do jogo de oitenta e dois, 
homens com barba desligaram rádios.

O veneno do escorpião
era o único antídoto para Telefunken.

A água da piscina mexeu sozinha.
Eles foram embora.

( FELIPE NEPOMUCENO )

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

SINISTROS RESÍDUOS DE UM SAMBA 

não chore meu amor não chore
que amanhã não será outro dia

( Cacaso )
"de qué modo sutil
me derramó en la camisa
todas las flores de abril"
( Nicolás Guillén )

Avenida Doutor Arnaldo

demolidora formosa
li naquele caminhão
devolvemos a sua
amada
em suaves prestações
do que foi feita a barraca de flores
a ideia num papel rabiscado
vinte ripas de madeira
lona azul, poucos metros
sete dúzias de amores-perfeitos
dezessete vasinhos de cactos
quarenta rosas colombianas
no radinho estão voltando as
flores nessa manhã tão linda
a dona conta o dinheiro miúdo
cheiro de chuva e sol deve ser
casamento de espanhol
cinco horas
outro congestionamento
os carros
quase todos prateados, olha um branco
e se fôssemos peixes num aquário interditado?
a sua ausência 
é a lâmpada queimada
de uma pousada 
em paraty
teatro de sombras 
na parede da sorveteria 
cafona

hoje não tem
o de pistache e o cheiro
de damas da noite
o gosto salgado da maresia
o carrinho de doces azul
e pulseira de sete voltas
os barcos de vidro riscado
e as roupas brancas
na estrada da lua minguante
um tropeço, engano
blefe de baralho fajuto.
um corpo estático
pendurado na
escadaria da 23 de maio

mudei de calçada:
a esquina é a
dobra da rua,
uma rasura,
traço ao acaso
asfalto que apressa os passos
de um calendário magro.