quinta-feira, 26 de novembro de 2020

 chocolamour


o vestido de verão 

guardava as manhãs 

e as cores explosivas 

das despedidas


rios desaguando 

nos olhos perplexos 


vagão fora dos trilhos 

caco de vidro um tranco 


na tarde em que o pé 

roçou a calcinha embaixo

da mesa 


um movimento de tango 

as ilusões passadas 

já não posso arrancar 


no balcão da lanchonete 

a taça de chocolamour 

derrete esperando você 





domingo, 5 de julho de 2020


a loja de pesca na
galeria domingos de
moraes
anilina entre os dentes
da menina mascando
chiclete na galeria
domingos de Moraes

inventários de
ausências azuis
na escadaria antiga da
editora
do outro lado da rua
domingos de Moraes

à espreita, travessa
machado de assis
olhos ambíguos cor de
césio
bilho, sinal de perigo
da moça no ponto de
ônibus da rua domingos de Moraes

terno cinza na porta do
alfaiate
loja que treina pombo-correio
peixe beta e saudade
na galeria domingos de
moraes

quarta-feira, 24 de junho de 2020

em paranapiacaba
cabanas fraturam a serrania
nervos de ferro dos comboios
ferrorama em tamanho natural
do campo de charles miller
aos trens que rangem longe das gerais

quarta-feira, 3 de junho de 2020


ardis

um tropeço, engano
blefe de baralho fajuto
um corpo pendurado
na escadaria da 23 de maio

mudei de calçada

a esquina verga a rua
uma rasura
traço ao acaso

asfalto que apressa os passos
de um calendário ralo

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Ouvindo Moon River
no céu desfila
a lua de néon
lagoa prata
uma lágrima
fingida de
cristal japonês

sábado, 11 de abril de 2020

1
acredito que a esquina
é uma dobra no pensamento
e as rugas : escamas de peixe
nubladas pela água suja do aquário
2
o convite pro cinema : um devaneio
de quem trança as pernas
invertendo as placas dos carros
o tempo alfabeto de impossibilidades
num fluxo de rio coberto pelo asfalto
3
chovem chaminés das fábricas
notícias de amores
de pedras-pomes esfareladas
na banheira do motel da ricardo jafet

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020




a dança desajeitada                                       
dos siris que brotam
entre o lodo e
as pedras escorregadias

caminhos irregulares que impedem
a pressa
você na janela do café, uma fileira de
portas em todos os tons do pantone

a luz morna do bar que embala
os barcos, a manta de alumínio do
telhado
os versos estampados nos vestidos

o nervo exposto dos becos
o sal que descama
os ossos da areia

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

radiografia
[diniz gonçalves júnior]

nenhum cais restaura o invento
os dias têm vozes monótonas
repetem a mesma cantilena
sem mistério nas filas e ruas escuras
a miragem dela desfaz-se
como um eco rindo das nossas caras
a cidade pátio aberto multidão
a escada de ferro cheiro de mijo
os dias e o silêncio cruel
parece mas não é uma jarra quebrada