quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

o córrego ipiranga
flui seu código
silencioso
caminho rente
sol ardido, banzo
da tarde de terça
trailer abandonado
loja de autopeças
quixote  de radiador
faróis, tanque e
escapamento
distraído, esqueço
o trânsito da avenida
vertigem, recordo
o jardim da saúde,
um quintal e a pitangueira
do rubens na rua frei rolim

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

POETA DA RUA

Ficaria feliz, imenso, realizado
se apenas fosse o poeta da minha rua.
Nada de títulos, reconhecimento em tese
e muito menos entrevista para revista.
Que apenas o moleque que cruza meu caminho
dissesse à namorada:
— Lá vai o poeta da rua até o mercadinho.
( Guca Domenico )

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Desmemórias

o colírio laranja visão turva na estação carrão as linhas alongadas delimitam o espaço o tranco no vagão e a janela passa rápida borrando a paisagem.  

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Desmemórias 
conjunto nacional uma tarde e os olhos cor de mesa de sinuca palavras caladas palavras ditas alegria nervosa  a escada e pessoas apressadas san paollo de vincenzo scarpellini tempo adiado chegou atrasado na estação  chegou errado tropeço na sílaba  seu nome que não pode ser dito vestido de verão e a cara lavada  sorriso e tudo a noite nubla despedida taxi coração em descompasso  inverno anuncia palavras sem volta  que lembram um bumerangue quebrado.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

SANDÁLIAS DE HERMES


Em plumas de pomba
um homem borboleteia
pela Recife retrô
beatnik em quarto de albergue.

Ana
em seu corpo-turíbulo
queima a solidão
e incensa a manhã.

Numa estrada próxima às folhas
onde as cigarras
são encantadoras de silêncio
o andarilho e a eremita
têm em suas fugas

uma alquimia de cama.

( Tito Leite )

sábado, 26 de março de 2016

desmemórias 


cada galeria é uma passagem que atravessa décadas pode-se enredar um caminho lateral discreto entre o café e o manequim que veste o vestido de verão ou jogar xadrez com os pombos no jardim restrito que contorna o limite do prédio
Na São Bento as sombras
entre a ferrugem da marquise 
e os passos enviesados
rente à escadaria 
o senhor de panamá 
pisa na água suja e
lamenta a loja fechada
1935, El Sombreiro
finda um tempo
arabesco, espelho mofado
o relógio de ponta-cabeça
em ato contínuo, silêncio
tecido nessa noite de garoa

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Desmemorias

coleção de moscas mortas trinca o vidro sem romper nessas caixas de madeira marítima
Qualquer ato é farsa que rasga a lona do parque antigo, canastrão na corda bamba , sem tiques ou truques, o salto ou o nada, vinca essa pele de deserto, escamas cotidianas